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Livro aborda como transformar o sofrimento em algo produtivo

O sofrimento é uma condição inerente ao ser humano, porém, o que cada pessoa faz com o seu sofrimento pode ser determinante para a sua saúde psicológica e física. Seguindo este raciocínio, o tratamento psicanalítico se propõe a lidar com a angústia e, de preferência, transformá-la em uma potência criativa. Um estudo aprofundado sobre o assunto foi realizado pelo psicanalista e professor Doutor Maurício Maliska em sua tese de Doutorado, cujo conteúdo foi transformado em livro e o lançamento de “Gozo(s), do sintoma ao sinthome” acontece em setembro, em Criciúma.

Principalmente baseada nos estudos de Sigmund Freud e Jacques Lacan (psicanalistas reconhecidos mundialmente como pensadores que mudaram nossa forma de entender não só os seres humanos, mas também, as várias formas de mal estar da nossa vida em sociedade), a obra trata da relação do gozo no percurso de uma psicanálise. Ela mostra a relação com o sintoma e como este gozo se transforma em sinthome (lê-se sântome) ao longo do tratamento.

 “O gozo, quando tratado pela psicanálise, é diferente do conhecimento popular de prazer sexual. Ele está relacionado com tudo aquilo que vai além do prazer e produz uma alta tensão no organismo porque mistura satisfação e sofrimento”, destaca Maliska ao acrescentar que as compulsões alimentares, como a bulimia, são exemplos deste tipo de gozo, pois, ao mesmo tempo em que a pessoa tem prazer em comer, ela também tem a angústia por comer demais e acaba vomitando (nos casos de bulimia), o que traz prejuízos não apenas psicológicos, mas para o corpo também.

Em relação ao termo sinthome, o autor explica que a palavra foi usada por Lacan em suas pesquisas, as quais serviram como base para a tese de Doutorado de Maliska e, por isto, ele preferiu manter a forma original. “O sinthome seria a forma como é apresentado o gozo no percurso da análise do paciente que sofre. O que a gente propõe ao longo da psicanálise é transformar este gozo, que é sintomático, em ‘sinthomático’ (sântomatico), que seria o gozo produtivo. É desvinculá-lo do sofrimento, virando algo criativo”, pontua.

“Esse é o processo de cura para a psicanálise, que visa trabalhar com a estrutura psíquica e, por isso, não se propõe a ser um tratamento breve, já que não visa mudanças adaptativas”, explica a psicanalista Maria Cristina Carpes, que participa de um grupo de psicanalistas e estudiosas da psicanálise, em Criciúma, e é uma das organizadoras do evento de lançamento. Também fazem parte do grupo as profissionais Ana Paula Gramacho, Ana Pizolati Cardoso e Débora Sônego Búrigo.

 Felicidade adaptativa e ilusões

Maria Cristina ressalta ainda que Freud propôs através  da psicanálise, transformar uma infelicidade conflitiva, a qual se consome grande parte das energias psíquicas, em uma infelicidade do dia-a-dia, possível de lidar como parte da condição humana.

“O importante é não buscar medidas adaptativas para substituir as decepções. Além dos transtornos alimentares, estas medidas adaptativas também podem ser o abuso de álcool e/ou drogas, automutilações, depressão e até aquisições materiais, como um celular de marca ou o carro do ano. Elas têm o valor agregado da condição de felicidades, mas, na verdade, são ilusões porque não garantem a felicidade idealizada. E, quando a felicidade não vem por estes meios, o que surge é a tristeza profunda, a amargura”, afirma Maria Cristina.

 Lançamento 

O lançamento de “Gozo(s), do sintoma ao sinthome” será no dia 23 de setembro, às 10 horas, na Livrarias Fátima, no Centro de Criciúma. O livro é voltado para psicanalistas, psicólogos, psiquiatras, estudantes e profissionais da área de saúde, bem como, estudiosos ou interessados pelo tema e por saúde mental. O evento é aberto ao público e contará com a presença do autor. Ele falará sobre a obra, a clínica psicanalítica nos tempos atuais e ainda sobre como a psicanálise aborda os sofrimentos na contemporaneidade.

Sobre o autor 

Maurício Eugênio Maliska é Doutor em Psicologia pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Mestre e Doutor em Linguística pela UFSC, com estágio de Doutorado (sanduíche) na Université Paris 7, na França. Psicanalista. Professor de psicanálise no curso de Psicologia e no Programa de Pós-Graduação em Ciências da Linguagem da Universidade do Sul de Santa Catarina (Unisul). Membro e ex-presidente (2013-2014) da Maiêutica Florianópolis – Instituição Psicanalítica.

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