Saúde
O que representa a pandemia de Covid-19 na história mundial?
A pandemia do Covid-19, iniciada em dezembro de 2019, e que ganha tamanha força em tão pouco tempo, não caracteriza uma situação inédita em nível mundial. Outras crises geradas por doenças contagiosas, conforme o professor e historiador da Unesc, Tiago da Silva Coelho, fazem parte da história da sociedade e marcaram períodos ao longo dos séculos. No Brasil, de acordo com o professor, infelizmente essa também não é a primeira vez que medidas drásticas precisam ser tomadas.
Uma das principais doenças que ocasionaram surtos no país, conforme Tiago, foi a varíola, no início do século 20. “Junto com a peste bubônica e a febre amarela ela teve como consequência a Revolta da Vacina, já que esse episódio fez com que o Brasil colocasse a vacinação como obrigatória e gerasse tudo isso que ficou conhecido como a Revolta”, relembra.
Pouco tempo depois, conforme o historiador, o Brasil registrou também a gripe espanhola. “A situação gerada acabou fazendo com que se pensasse naquilo que hoje é o Sistema Único de Saúde (SUS) hoje. Ali surgiu a ideia de um sistema que levasse em conta não somente a proteção hospitalar, mas também a vigilância sanitária. Ele faz parte de uma série de outros eventos, tão problemáticos e com medidas tão e até mais drásticas como a que vemos hoje”, completa.
Entre as doenças que mataram milhões de pessoas ao longo da história estão ainda enfermidades como peste bubônica, cólera, tifo, tuberculose, varíola e até mesmo o sarampo que recentemente reapareceu no Brasil, mas agora já com uma vacina eficiente disponível.
Em nível mundial, de acordo com o historiador, uma das grandes epidemias em massa foi da peste bubônica, no século 14, ocasionada pela pulga de roedores. “Foram feitos muitos processos que possibilitaram o desenvolvimento da doença ao perseguirem a causa equivocada. Neste caso foram atribuídos os mais variados motivos à doença, desde explicações religiosas, como punição divina ou apocalipse, ou motivos mais preconceituosos como determinados grupos sociais seriam os portadores ou causadores da peste”, explica o professor que acrescenta que a situação foi de tamanha gravidade que fez com que morresse ao menos 10% da população mundial.
O reflexo de situações como essa, conforme o professor, pode ser mensurado ao fazer um comparativo com a Primeira Guerra Mundial, que matou, por ano, mais ou menos dois milhões de pessoas entre combatentes e civis, totalizando entre oito e dez ao longo de toda a sua existência. “Já a gripe espanhola, só em 1918, marcou 50 milhões de pessoas no mundo todo, inclusive no Brasil, em uma estimativa superficial, já que não há informações precisas”, comenta.
Ao voltar os olhos para os dias atuais, diante da situação vivida no Brasil e agravada ao longo desta semana, para o professor, é possível avaliar que a sociedade está muito melhor amparada e preparada para lidar com epidemias e pandemias. “O momento que estamos vivendo hoje requer bastante cuidado, mas temos muito mais fontes de informação, recursos de saúde, tanto de hospitais, médicos, quanto de conhecimento científico. Outros países já demonstraram que é possível conter a profusão dessa doença e nós aqui no Brasil estamos fazendo todo o possível para que evitemos a disseminação do vírus”, pontua.