Economia
No Peru, setor cerâmico do Sul de SC encontra alternativas para possível escassez de matéria-prima
Durante a viagem, grupo também conheceu soluções sustentáveis e participou da ExpoMina Perú 2022
Uma eventual escassez de matéria-prima tem preocupado o setor ceramista do Sul de Santa Catarina. Atualmente, a região é polo de produção no Estado e emprega cerca de cinco mil trabalhadores em mais de 100 empresas do ramo. O foco é a fabricação de telhas e tijolos que são comercializados, inclusive, internacionalmente.
Os produtos têm em comum a argila como matéria-prima base – antes encontrada em abundância e qualidade na região. “Isso fez com que durante um bom período as empresas trabalhassem sem se preocupar com o fornecimento, só que, olhando para um futuro não tão distante, já há preocupação com a quantidade e a qualidade da argila”, informa o diretor-executivo do Sindicato da Indústria de Cerâmica Vermelha de Morro da Fumaça (Sindicer), Alexandre Zaccaron.
Atualmente, a Cooperativa de Exploração Mineral da Bacia do Rio Urussanga (Coopemi), por exemplo, que faz aquisições de áreas para extração, já começa a enfrentar algumas dificuldades, como material que necessita de britagem. “Como a grande maioria das indústrias da região são de micro e pequeno porte, fica mais complicado o investimento em moinhos e britadores”, comenta Zaccaron.
Preocupados com esse possível cenário, o Sindicer, em parceria com o Sebrae/SC, Coopemi e NF Soluções, levou um grupo de 15 pessoas, entre empresários, associados e presidentes das instituições, para uma missão empresarial no Peru, onde puderam participar da ExpoMina Perú 2022 e realizar visitas técnicas em uma série de indústrias do ramo entre 26 de abril e 4 de maio.
Durante a viagem, o principal objetivo foi visitar a feira que reuniu fornecedores mundiais de mineração, mostrando o que há de mais moderno em maquinário, tecnologia e serviços. “Eles puderam observar as tendências para mineração e beneficiamento de materiais com maior teor de dureza, já que o Peru se destaca nesse tipo de minerais devido à geologia da região”, destaca Zaccaron, quem organizou a missão.
Realidades diferentes, mas que trouxeram inspirações
O grupo ainda visitou a Ladrillera Cerandes S.A.C., em Lima, capital do país. A indústria cerâmica fabrica tijolos exclusivamente com material britado – um processo bem diferente do visto no Sul do Estado. No local, eles foram recebidos pelos sócios Eduardo Giunti Eguren e Marco De La Cruz.
“Em Lima, chove três milímetros por ano. Praticamente, não tem chuva nessa região. O pessoal visitou uma cerâmica atípica daqui, sem teto e parede, secando material tudo no tempo, mas com uma produção exorbitante”, comenta o sócio da NF Soluções, Vitor de Souza Nandi, que atua na parte de vendas de máquinas e consultoria em Cerâmica Vermelha nos países da América Latina.
Segundo o empresário, a matéria-prima, utilizada pelos peruanos, precisa ser moída antes de se fazer o processo de extrusão. “É uma condição que aqui usualmente não se utiliza, porque as matérias-primas ainda são nobres, de fácil extrusão. Então, um processo totalmente novo que foi visto, abrindo os olhos deles para uma nova opção, nova metodologia de trabalho”, diz Nandi.
“Muitos empresários até já pensaram em fazer a aquisição de alguns equipamentos de moagem para poder utilizar materiais, como a pedra, que nós dispensamos, e eles utilizam como matéria-prima nobre, devido à escassez”, complementa.
Meio ambiente em pauta
Ainda no Peru, o grupo visitou o Distrito de San Jerónimo, em Cusco, onde foram recepcionados por Melquiades Camala Flores, proprietário da Ladrillos Camala e gerente geral da Sociedad Minera Asociación tejas I ladrillos Sucso Auccaylli SA, que tem uma função similar à Coopemi: a de minerar argila aos produtores de cerâmica vermelha. O trabalho da instituição também se assemelha ao de Sindicer, que atua na defesa do setor ceramista.
Em Cusco, os empresários também conheceram o distrito industrial de San Jerónimo, com aproximadamente 200 pequenos fabricantes de tijolos. “A produção lá é feita com uma argila nobre, fina e de boa de extrusão, e que não necessita de vários processos, como extrusão e moagem. É um processo totalmente diferente. Apesar de serem pequenos e com a industrialização mais atrasada, têm atitudes de melhoria ao meio ambiente, principalmente com relação aos filtros”, conta Nandi.
Segundo o empresário, a utilização de filtros é uma necessidade mundial para a diminuição da poluição de materiais particulados no ar. “Eles puderam ver a possibilidade de se fazer filtros simples para contribuir com o meio ambiente”, revela.
“Também fomos atrás de ver como eles estão fazendo a recuperação ambiental por lá. Nós também fazemos bastante aqui nas nossas áreas exploradas. Conheci um instituto no Peru e conversei muito com o pessoal, até a respeito da própria legislação ambiental”, complementa o presidente da Coopemi, Bili Coral.
Parceria com o Sebrae
A missão empresarial começou a ser planejada ainda em 2021. “O Sebrae nos orientou para procurarmos alguma feira para ter contato com o problema que já diagnosticamos aqui, que vai ser a escassez de matéria-prima. Por isso, fomos em loco conhecer o processo de fabricação no Peru e nos inspirar”, revela o presidente do Sindicer, Renato Zaccaron.
O Sebrae desenvolve uma série de ações na área de acesso ao mercado, de melhoria de gestão, de produtividade e sustentabilidade, junto ao Sindicer. “Nosso objetivo agora foi proporcionar a esses empresários um conhecimento maior do setor, ter acesso às novas tecnologias e, no caso deles, foi mais específico sobre o bom uso da matéria-prima. Então, é uma das ações que fazemos dentro de um todo para a melhoria da produtividade e consolidação do setor”, explica o analista de atendimento da Gerência Regional Sul do Sebrae, João Alexandre Guze.
Texto: Richard Vieira / Jornalista (NZBT)